ROSAS DE JANEIRO
O casal Mendonça, Elias e Magnólia, está muito triste. Mais uma gravidez que desfez-se. Não durou nem quinze dias. Essa circunstância já está afetando enormemente a relação do casal. Magnólia vive desfeita em lágrimas e Elias, por sua vez, cada dia mais sisudo. É triste e comovente o quadro daquela mansão. Os empregados, silenciosos, caminham pela casa pisando em ovos. E muitos perguntam-se de que adianta tanto dinheiro, se não há felicidade. Passaram os meses e aos poucos o casal vai recuperando o ânimo, porque apesar de todo sofrimento, o amor é grande entre os dois. Enquanto se distrai, Magnólia cultiva roseiras, mas também não tem muito sucesso. Seu Juliano, o velho jardineiro faz de tudo: afofa a terra, aduba, irriga, mas a maioria tem curta duração. Rosas minguadas e frágeis, morrem logo. Em suas orações Magnólia conversa com Deus e pergunta onde falha, não só com os filhos, mas também com as roseiras, sem perceber nenhuma relação entre as situações. Já conversou com Elias mais de uma vez sobre adoção, mas o mesmo não é muito favorável. Cansada de chorar, numa última conversa, decide que devem evitar uma nova gravidez. Assim diminui o sofrimento. Resignado, o marido concorda. Aproxima-se o final do ano e eles sabem que será mais um melancólico Natal e um réveillon também angustiante. Decidem que farão uma viagem, retornando apenas para a festa da empresa, que acontece todo o dia 30 de dezembro, encerrando o ano de trabalho. E assim procedem. No dia 31, quando levantam, encontram um seu Juliano espantado e sem saber o que dizer. E, ao mesmo tempo, o casal escuta um choro infantil vindo da cozinha. O jardineiro sai do seu espanto e consegue explicar ao casal que um bebê foi deixado, num cesto, junto ao portão. Estupefatos, marido e mulher seguem em direção ao referido cômodo e encontram a cena: sobre a mesa, um cesto simples, forrado com uma toalha de banho, e uma linda menina, aos prantos, soluça. Magnólia a pega ao colo, e diante do olhar do marido, consola a criança, como se sempre tivesse feito isso. A menininha olhando, embevecida,aquele rosto, aquieta-se. _Seu Juliano, explique, por favor, o que houve, pediu Elias, intrigado. _Seu Elias, eu levantei cedo para varrer as folhas antes do sol esquentar. E encontrei essa criança, nesse cesto, junto ao portão. Eu a recolhi e esperava o casal acordar. Elias e Magnólia se entreolharam e aguardaram o senhor continuar a explicação. _Preso no peitinho dela encontrei esse bilhete. E estendeu um papel dobrado, bem amarelado.
Elias, trêmulo, pegou o papel e o abriu e leu, em voz alto o conteúdo. "Meu nome é Maria Silva e da minha amada filha é Rosa. Meu estado de saúde é grave. Não posso cuidar dela, então lhes entrego para sempre. Por favor, cuidem da minha Rosa como se fosse do seu jardim. Deus há de lhes recompensar por tudo. Não se preocupem porque não voltarei. Apenas peço que a registrem com o nome Rosa. Gratidão por tudo!"
Uma assinatura rabiscada encerrava o pequeno bilhete. Único documento daquela criança.
Sem pensar muito, o casal com o bebê, sentou-se na grande sala, enquanto olhava aquele rostinho, agora sereno, e um suspirar sonolento.
_O que faremos? perguntou Elias para Magnólia. _Não sei. Apenas temos que providenciar algumas coisas para as primeiras necessidades dessa criança. Depois veremos a parte prática da situação. -respondeu Magnólia, com ares preocupados. E continuou: _na cesta tem apenas duas fraldas e umas roupinhas. Nenhuma mamadeira nem chupeta. Acho que a alimentação é a principal medida por hora.
Imediatamente Elias levantou-se, pegou o celular e ligou para Elson, seu irmão, que é pediatra e pai de um lindo menino e pediu instruções. Recebendo uma pequena lista ligou para farmácia.
Logo em seguida, de posse de tudo, partiram para o quarto para cuidar do bebê.
Esquecidos que era o último dia do ano, só se deram conta quando começaram a ouvir os fogos espocando ao longe e os sinos da catedral anunciando a chegada de um novo ano.
Passados cinco dias, sem que ninguém viesse cobrar ou procurar pela criança, chamaram o advogado da família para tomarem as medidas legais sobre a adoção.
Um belo dia, com sol radiante, Magnólia com Rosa ao colo, chega até a sacada e, surpresa, vê despontar as rosas tão desejadas em seu jardim: são as ROSAS DE JANEIRO!
Regina Madeira 30/12/2023 "imagem do Google"
Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 30/12/2023
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