NÃO HÁ VAGAS
A madrugada estava chuvosa, fria e caminhava para as três horas. Alcenira, insone, pensava apenas nas contas a serem pagas e no fraco movimento da pensão. Depois que sua mãe morreu, depois de lutar com um doloroso câncer e levando os últimos recursos financeiros, tudo ficou mais difícil. Continua dirigindo a pensão, mas, com hotéis e pousadas em alta, seu movimento caiu muito. Ouvindo o barulho da chuva que aumentava e as buzinas dos carros ao longe, assustou-se quando fortes batidas na porta da frente soaram por toda casa. Imediatamente, lembrou-se dos conselhos de sua mãe que nunca atendesse ninguém na madrugada e sozinha. Mas o que fazer se as batidas eram tão insistentes? Armou-se de coragem e e encostando o espevitador de ferro da lareira ao lado da porta, perguntou: _Quem é o que deseja a essa hora? E ouviu uma voz rouca e cansada responder: _Por favor, senhora, somos um casal com um pequeno bebê, que chegamos no último ônibus da cidade ,que atrasou muito. Surpresos pela chuva, estamos com frio, fome e muito molhados". Já procuramos vagas, mas não encontramos nada. Nenhum lugar para abrigar o nosso bebê". Com o coração aos saltos, Alcenira abriu a porta, ainda escorada pelo espevitador na outra mão. Com a graça de Deus, era realmente o casal muito molhado e o bebê em prantos. Deixou-os passar e fechou a porta para o vento não esfriar a sala aquecida e que fosse o que Deus quiser. Levou-os até a mesa e foi em busca de toalhas e roupas para que eles pudessem recompor-se. Para criança , teria que improvisar com alguns lençóis mais velhos, porque não havia nada. _Olhem, o banheiro é ali, naquela porta! Enquanto isso, vou levar o bebê para o quarto onde verei o que posso providenciar. A mãe, com os olhos marejados, vermelhos e com um simples aceno, assentiu. Alcenira tomou o bebê no colo, que a mirava com os olhos arregalados. Sentiu aquele olhar que tocou sua alma e percebeu o quanto sua vida estava solitária depois da partida da mãe. Forrou uma toalha sobre a cama e deitou aquele serzinho frágil sobre ela. Pegou um lençol já muito gasto, mas em bom estado e cortou-o em quadrados do tamanho de fraldas, enquanto uma camiseta já apertada teria que servir como uma longa blusa. Apesar de molhado o bebê estava bem aquecido e logo foi trocado e enrolado numa toalha macia. Ao retornar para a sala, o casal já estava recomposto com as roupas que ela havia fornecido. Alcenira entregou o bebê e perguntou:_A senhora tem uma mamadeira ou amamenta ao seio? A mulher sorrindo disse que ele mamava como um bezerrinho e já o acomodou para mamar. Antes de ir providenciar algo para comerem, Alcenira perguntou seus nomes. _Somos João, Aparecida e nosso pequeno José, disse sorrindo o homem. Alcenira sentiu um aquecimento estranho no coração e caminhou em direção a cozinha. Aquecendo a sopa do jantar, arrumou dois grandes pratos e voltou à sala. _Podem comer à vontade, que eu irei fazer um café. Voltando para a cozinha, preparou uma grande quantidade de café, para deixar também para de manhã. Separou um pouco numa garrafa térmica antiga, já deixando para eles levarem quando saíssem dali. Muniu a bandeja com os pães amanhecidos que sobraram e levou tudo. Eles comeram e ficaram satisfeitos. Alcenira deixou-os no quarto e foi deitar-se, tomando o cuidado de trancar a porta, afinal precaução nunca é demais. Acordou, assustada, com o sol dentro do quarto e espantou-se com a hora tão tardia. "Oito horas??? Nunca dormi tanto assim, questionou-se". Levantou, apressada, e mesmo de pijamas, tou direto ao quarto onde havia acomodado o casal. Estranhando o silêncio, bateu levemente à porta, mas essa abriu-se como se estivesse só encostada. Lá não havia nenhum sinal da família, ou melhor, como se não tivesse passado ninguém ali. Alcenira entrou, espantada, e viu sobre o travesseiro um envelope e um bilhete, com uma letra muito bonita: _Alcenira, o seu coração abarca o Meu mundo. Felizes são aqueles que Me recebem sem mesmo Me conhecer. Esse dinheiro não é o pagamento pela hospedagem, mas sim para você saudar todas as suas dívidas. Ainda vamos nos encontrar novamente. Eu sou o seu Jesus." Aos prantos, Alcenira abriu o envelope e lá estava o mesmo valor que consta no seu caderno a ser pago para salvar sua casa e sua pensão.
FIM
Regina Madeira 20/08/2023 "imagem do Google "
MEMORIAL RECANTISTA, EU APOIO!!! Meus queridos amigos Recantistas, com esse simples texto, venho deixar os meus votos de um Santo e Feliz Natal e um Ano Novo realmente renovado também para suas abençoadas famílias. Sabemos que muitas tristezas e necessidades existem, pois pessoas sofrem por todo o mundo. Mas não podemos esquecer que Jesus nasceu e morreu por nós, e a sua vinda tem que ser celebrada. A maior ideia do Natal é exatamente essa.
Gratidão pela companhia de todos esses anos de Recanto das Letras.
Deus abençoe a todos. Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 19/12/2023
Alterado em 19/12/2023 Copyright © 2023. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |