CRÔNICAS DA TARDE
ALMAS INCANDESCENTES São dezenove horas. A chuva cai inclemente por toda a cidade. O frio é enregelante, penetrando sob as roupas mais grossas. Enquanto o carro passa, os jovens que estão lá dentro vão espreitando as marquises e as calçadas onde possam encontrar alguém. São cinco pessoas ao todo. A passageira que vai ao lado vê ao longe um vulto e indica onde o carro deva parar. O motorista busca um lugar para estacionar e imediatamente iniciam a tarefa daquela noite. Eles não conversam muito. Há muito trabalho a ser feito. O carro é estacionado e todos saltam ao mesmo tempo. Retiram do porta-malas os colchonetes, cobertores e garrafões térmicos, as caixas-térmicas e os copos. Só ali naquela calçada são quatro pessoas deitadas quase que no chão, tendo em vista que os papéis estão rasgados. Alguns dormem, quase num desmaio; outros estão mais despertos e muitos mal conseguem sentar, necessitando de ajuda. Silenciosamente vão distribuindo toda a coleta do dia. Colocam os colchonetes e cobertores no lugar dos jornais e papelões. Os que estão rasgados são jogados no lixo e colocam numa pilha aqueles que ainda têm serventia. Após cuidarem daquelas pessoas e conversarem um pouco, dando o conforto enquanto trabalham, juntam os papelões e levam para o carro, pois sabem que antes do final do trabalho vai faltar material para alguém e os papelões continuarão a ter serventia. Terminam ali e seguem pela cidade. Agora estão mais felizes e falantes. Suas ALMAS INCANDESCENTES acenderam uma chama de esperança em alguém. O quanto vai durar aquele ato ninguém sabe, mas quem a faz a contabilidade está olhando tudo. E isso é que importa. Regina Madeira 12/11/2016 - 16:27 h "imagem do Google" Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 12/11/2016
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