Regina Madeira - Estrela Radiante

Brilho das Letras

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UM AMOR DIFERENTE ( IV )
MAIRA 45 / DANIEL 30
Maira, de olhos arregalados, perplexa, fixava o advogado da família e em seguida, como  tivesse ouvido alguma piada, gargalhou de dobrar, até escorrer lágrimas dos olhos.
Os presentes, nada entendendo, olhavam perplexos também para a mulher, que continua a rir sem parar.
Dr. Falcão, com a serenidade que lhe é característica, continuou sentado, esperando que a crise passasse, pois conhece Maira desde que estava na barriga da mãe.
Quando percebeu que o advogado falava sério, Maira sacudia a cabeça, ainda sem acreditar no que se passava, na atitude que o seu avô tomara antes de morrer.
Ainda vestida com a roupa do funeral, Maira deixou-se cair na primeira cadeira e desabou realmente em lágrimas amargas.
Pertencente a uma família tradicionalista da cidade de Camargo, Maira nunca pensou que seu avô fosse realmente levar a sério a ameaça que vinha fazendo nos últimos 10 anos: que ela arranjasse um marido e lhe desse os bisnetos esperados.
Com essa cantilena, sempre com respostas bem humoradas, Maira ia vivendo sua vida, entre o trabalho e a vida social agitada.
Nunca foi de grandes feitos, mas sempre saiu bastante e sempre variando a companhia, o que desgostava seriamente o seu avô.
Após perder os pais num grave acidente, Maira ficou apenas com ele, o Conde de Camargo. Homem rico, ou melhor, dono de quase toda a cidade com o seu nome, fundada por seu pai, dom Francisco, como era chamado por todos, era sisudo,  mas justo, e sua preocupação com Maira era genuína, pois a amava com loucura. Sua preocupação era não apenas com os vastos bens, mas com a solidão dela. Pois sentia que os seus dias estavam contados e da família só restaria apenas ela.
Assim, o velho gostaria de vê-la assentada e bem casada, para morrer em paz. Mas o velho e desgastado coração já vinha falhando há muito e não resistiu a um novo ataque, e dom Francisco morreu sem ver o seu sonho realizado. Mas garantiu que sua vontade fosse cumprida em testamento.
Para muitos, pode parecer uma atitude do outro mundo, mas para dom Francisco, com seus noventa anos e que viveu sempre pelas antigas regras, foi uma coisa natural.
O advogado, conhecendo Maira, ainda tentou fazê-lo mudar de ideia, mas nada o convenceu.
Quando percebeu que nada ia conseguir daquele jeito, Dr.Falcão aconselhou  Maira a tomar um banho, trocar aquela roupa por outra mais de acordo, para que ele procedesse a leitura do testamento como deveria ser, já que a notícia que ela recebeu constava de uma carta deixada para ela pelo avô.
Enquanto Maira, mesmo contrariada, subiu ao quarto, o advogado preparou tudo e todos para a leitura do testamento e é nesse momento que Daniel inicia sua parte na história.
Daniel, 30 anos, bonito homem, simpático, inteligente, trabalha desde os 18 anos para dom Francisco como seu motorista. Aprendeu a guiar ainda mais jovem e assim que tirou sua carteira o velho conde o empregou como motorista e como secretário particular.
Nesses 12 anos de trabalho, Daniel viu e viveu várias fases da vida da família, principalmente as mortes de d. Amélia, a avó de Maira e de sua filha e genro, pais da moça.
Vem também acompanhando Maira na sua vida, às vezes, nem muito regrada, sempre num silêncio dos sábios, pois sabe que com o gênio que ela tem, não admite conversas pessoais.
Nesse mesmo tempo, Daniel concluiu o ensino médio, fez Administração, e é responsável pelo gerenciamento dos bens da família, coisa pouco tolerada por Maira.
Finalmente uma Maira, renovada e perfumada adentrou o escritório onde todos já a aguardavam para a leitura do testamento, que para todos seria muito difícil devido ao falecimento do patrão amado por todos.
Quando Maira entrou, percebeu Daniel sentado ao lado de dr. Falcão, e franziu a testa, desgostosa.
O advogado, fingindo nada ter visto, iniciou os trabalhos.
A longa leitura foi abreviada pelo advogado, pois com exceção de Maira, todos os empregados já tinham suas heranças garantidas e lacradas em envelopes com seus nomes.
Após as entregas e entre lágrimas, todos se retiraram para os seus afazeres, ficando na sala apenas Maira, Daniel e dr. Falcão.
Agora, Daniel, disse o advogado, o conde deixou você encarregado e dono de 40% de sua fortuna, pois como você vai ver nessa carta que ele redigiu e fez questão que eu lesse para que não houvesse nenhuma dúvida sobre sua vontade, e como bem salientou, não aceita um não como resposta nem cabe aqui qualquer contestação.
Maira, pálida, com os olhos sempre arregalados, nada dizia, pois não encontrava palavras para esboçar sua tamanha indignação.
Daniel, sem dizer nada, saiu da sala e foi para o jardim.
Foi lá que o advogado encontrou, soluçando desconsoladamente. Sentando-se ao seu lado, disse:
Daniel, o conde sempre lhe teve um amor de avô, pois nunca se esqueceu de como vocês se conheceram, naquele acidente em frente ao shopping, quando você o atropelou com o seu skate e deixou tudo para socorrê-lo.
Daniel sorriu entre  lágrimas e disse que se lembrava bem da cena e das conversas que tiveram até convencê-lo a ir para sua casa, após a morte dos seus pais.
Mas ainda inconformado com essa mudança brusca de situação, tentou demover o advogado do seu intuito.
Dr. Falcão então entregou uma carta particular onde o conde explicava tudo para Daniel das reais intenções dele, pois na realidade queria vê-lo casado com Maira.
Ao mesmo tempo,a moça lia a sua carta particular  e novamente entrou em pânico, pois se não se casasse e com  Daniel, no espaço de seis meses, toda a fortuna tanto dela quanto dele passariam para as instituições de caridade que a família era responsável.
O advogado aconselhou Daniel ir para o seu apartamento e deixar Maira acalmar-se para depois conversarem sobre os acontecimentos.
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Estrela Radiante
"imagem do Google"

Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 01/11/2012
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